(Ilustração de Amaral)
Aqui o texto original na íntegra, escrito em dezembro de 2008.
"Prefácio
do autor
Não poderia me prender a narrar os fatos
descritos nos documentos oficiais e contidos em textos como os de
Odilon Nunes, Abdias Neves ou Monsenhor Chaves. Da mesma forma, não
poderia correr o risco de me aventurar na liberdade criativa de uma
construção literária. Precisava contar uma história, trabalhar
personagens, fazer um romance. Mas que armadilha é essa? Fazer uma
ficção histórica? Em gibi?
Quando encaminhei o projeto da realização deste
livro, descrevi assim ao Governador Wellington Dias e à Presidente
da Fundação Cultural do Estado Sônia Terra meu objetivo:
Apresentar os personagens anônimos que participaram da Batalha. E
minha justificativa:
A
Batalha é cantada em nosso hino, “vendo a pátria pedir liberdade
o primeiro que luta é o Piauí”, é encenada em peça escrita e
dirigida por grandes nomes do teatro piauiense, Aci Campelo e
Arimatan Martins. Esta história, através da arte, aproxima-se de
quem a mais deve interessar: ao povo, que apropria-se dos fatos,
orgulhando-se cada vez mais de sua naturalidade, de sua origem, que
decidiu com luta, suor e sangue um dos episódios mais honrosos dos
capítulos deste país. É neste sentido que o Núcleo de Quadrinhos
do Piauí propõe-se a construir uma obra em quadrinhos que narre os
acontecimentos desta luta de forma histórica e romântica num estilo
literário conhecido como “novela gráfica” (Graphic Novel), uma
obra extensa que possa apresentar de forma profunda e intensa os
vários episódios deste período de maneira que não se prenda
apenas ao didatismo de apresentar os fatos, mas que possa envolver
sentimentalmente o leitor aos personagens principais, tornando a
leitura informativa e prazerosa.
Como podem constatar, a intenção sempre foi
trabalhar de forma romântica, procurando envolver sentimentalmente o
leitor com personagens anônimos. Partindo deste princípio, quis
construir um roteiro que contasse também com a participação
ilustre dos baluartes políticos da independência no Piauí, como
Simplício Dias, Dr. João Cândido, Leonardo Castelo Branco, Manoel
de Sousa Martins e outros. Quis representar aqui os cenários mais
importantes, que foram Campo Maior, Parnaíba, Oeiras, Piracuruca e
União (Estanhado). Entretanto, houve (como sempre há) contratempos.
Iniciei este roteiro em setembro, ao final de outubro havia terminado sua 1ª versão. O fato é que, de novembro a fevereiro, o livro precisaria estar pronto para ir para a gráfica, com possibilidades de ser lançado no 13 de março de 2009. Ou seja, quatro meses para desenhar, arte-finalizar e editar o livro, convenhamos: pouco! Veio logo a dedução do que precisaria ser feito: para desenhar e arte-finalizar necessitaria de três meses, sendo produzidos, no mínimo, uma página por dia, visando aí um total de 100 pranchetas. Em 100 pranchetas eu não conseguiria colocar os três cenários mais importantes desta história (Campo Maior, Oeiras e Parnaíba) junto com os personagens políticos chaves e ainda ter uma trama a apresentar, ou seja, fazer o romance. Se eu optasse por realizar esta obra desta maneira, eu faria um documentário em quadrinhos, que impossibilitaria o sentimento e o envolvimento carnal que só uma trama literária ficcional pode ousar se propor a ter com seu interlocutor e incorreria no risco do enfadonho didatismo.
Para contar a história de Teobaldo, Januário e famílias, que são personagens fictícios, eu tive de abrir mão da variedade histórica do leque em minhas mãos. Tive de escolher um cenário: Campo Maior. Não é preciso dizer quais os critérios da seleção do cenário, já que está implícito do objetivo desta obra desde o princípio. Entretanto, mesmo frisando uma única cidade como cenário deste processo de independência, não diminuí a importância das outras. Parnaíba, Oeiras, Piracuruca e União foram constantemente citadas. As tropas que sobem e descem, os estafetas, os positivos, estão sempre se dirigindo para algum lugar e as discussões em Campo Maior querem saber o que acontecem nas outras cidades. Quando Leonardo, o parnaibano, desce até Campo Maior, ele aparece na história em quadrinhos.
O recorte espaço-temporal necessário nesta 1ª versão foi devido uma limitação prática da produção. Por isso o título original proposto foi “13 de Março – Campo Maior”, e não algo como “As Lutas Pela Independência do Piauí”. A grande questão é que Parnaíba e Oeiras possuem um número de fatos tão interessantes para serem abordados dentro desta compreensão maior do cenário, que não seria possível narrar tudo isso em apenas 100 páginas. Seriam preciso 200 ou 300, espaço para o qual não havia tempo.
Entretanto, conversando com o Diretor de Ação Cultural da FUNDAC, Chagas Vale, ele reiterou a necessidade de incluir e valorizar mais a participação das outras cidades, além de estender a história até a prisão de Fidié, que acontece meses depois da Batalha do Jenipapo. Iniciei a 2ª versão do roteiro com esses preocupações, o que, praticamente, duplicou o volume de páginas, como havia deduzido.
Para incluir estes novos cenários, não poderia ser de qualquer maneira. Precisei historiar desde a chegada da família imperial portuguesa até o Brasil, para depois justificar a cisão entre brasileiros e portugueses e contextualizar as atitudes de Parnaíba e Oeiras. Tive também de utilizar de recursos onde suprimi fatos para tornar prática esta adaptação e seu lançamento ainda em 2009.
Por isso, espero que todos que leiam esta versão do roteiro tenham em mente as limitações e objetivos às quais me submeti a criar. Sendo esta parte entendida, posso partir para um segundo momento da abertura deste texto: os subtemas da obra.
A liberdade, a guerra,
a morte e o ódio ao outro são as principais questões abordadas
aqui. Também são temas recorrentes o respeito e obediência entre
membros da mesma família, além da religiosidade do povo piauiense.
Como trabalhar isto? Eu sei que é preciso honrar os mortos deste
processo em busca da liberdade, mas não me parece certo glorificar a
guerra em si. Durante a história eu quis discutir isso com o leitor.
A batalha foi inevitável? Por que o homem simples foi à campo
guerrear e morrer? E o ódio que geramos pelos portugueses, é
justificável à ponto de querermos matá-los? E o negro escravo que
havia em Campo Maior, ele participou da guerra? Ele sabia que não
seria libertado depois dela? E Dom Pedro, que foi contra as ordens do
pai? Qual rei o povo deveria acreditar que Deus queria governando o
Brasil? Não quero dar respostas a estas perguntas, quero apenas que
pensem nelas enquanto estiverem lendo esta simples obra.
Obrigado,
Bernardo Aurélio de
Andrade Oliveira
12 de dezembro de 2008"